Terra e trabalho, coexistiam numa inevitável cumplicidade. Possuir terra constituía sinónimo de riqueza, abundância, uma garantia de sustento, alimento,.... trabalho. Tal, resultava no culto pela terra, numa quase sacralização da mesma. Conseguir trabalho, era uma busca constante! Percorriam-se estradas e carreiros, “alqueves” e cabeços, aldeias e os mais diversos lugares, na expectativa de o conseguir. Uns, conseguiam-no ao pé de casa, outros na “praças”, ainda outros, eram “falados” à porta, para trabalhar nos mais diversos locais, desde o Oeste, até aos campos da lezíria. Ficava-se “prometido”! Facto que devia ser honrado! A sensibilização, para esta dura realidade, dava-se cedo. Logo em criança, começava-se a trabalhar, era considerado um estímulo para se cultivar a disposição para tal. Era também, um pretexto necessário, para se conseguir mais uma “jorna” para casa. Logo cedo, trocava-se a escola pelo cajádo, para guardar ovelhas, cabras, porcos ou perus, trocava-se o carrinho de cana, pela “enfusa de aguadeiro”, ou pelo bafo dos bois, nos “alqueves” das lavouras. Assim que a capacidade física permitisse, e o rendimento justificasse a “jorna”, começava-se a ganhar como os homens. A “jorna”, era para a casa! Se fizesse a semana completa, o pai dava-lhe um dia! Se não.. não recebia nada! Triste e dura realidade que as dificuldades impunham, e que poderia ser aliviada, aprendendo um “oficio”. Quem podia pagar ao mestre, aprendia a alfaiate, sapateiro, carpinteiro, pedreiro ou barbeiro! Começava-se em aprendiz, até chegar a “oficial”! Ânimo e estímulo, eram uma necessidade! Inconscientemente, encontravam no canto, a alegria e boa disposição para vencer esta dura realidade. Cantava-se, quando se ia, permanecia e vinha do trabalho. Vencia-se a melancolia e o cansaço, e conquistava-se assim, a indispensável recompensa ao esforço despendido, para a imperativa sobrevivência! A ruralidade marcava, assim, a vida destas pessoas. Semear, plantar, “mondar”, colher, “desgramear”, transportar, moer. E, principalmente, cavar: a primeira, mais madrasta e mais comum das actividades agrícolas De vinho, cereais, azeite ou criação de gados era feita a sua existência. Labutando de sol a sol uma existência dura que o suor do rosto e a magnanimidade divina deveriam, depois, transformar na esperada abundância. |